Vencedor do Prêmio Jabuti, jornalista Luis Osete fala sobre o livro "Maracujá Interrompida"
29/10/2025
(Foto: Reprodução) Luis Osete, vencedor do Prêmio Jabuti com o livro Maracujá Interrompida
Arquivo pessoal
O livro “Maracujá Interrompida”, do jornalista Luis Osete, conquistou na noite de segunda-feira (27) o Prêmio Jabuti 2025, na categoria Escritor Estreante – Poesia, do Eixo Inovação. A obra, publicada pela editora Cepe, mostra a história de uma mulher que tenta lidar com o luto da morte da mãe e os cuidados com o pai que enfrenta um avançado processo de demência.
“Ela está elaborando o luto da mãe ali, ao mesmo tempo tendo que cuidar de um pai que foi abusador, foi violento com a própria mãe dela e com ela também”, diz Osete, destacando a relação da personagem com o pé de maracujá cortado pelo pai e a mãe morta.
“Ela vê a mãe no maracujá, e é por isso que ela chama de maracujá interrompida. Porque, de repente, maracujá não é o maracujá, é a maracujá que é a mãe também dela. Tem essas camadas assim de sentidos que o livro vai provocando nas pessoas que leem”, explica .
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O autor reforça que o livro pode ser sentido de diferentes formas. "Pode alguém que esteja elaborando o luto, pode se identificar muito com essa elaboração do luto, da ausência da mãe, da morte da mãe da menina, e alguém que não tenha vivenciado isso pode pescar outra coisa ali. Fala sobre a vida, sobre a morte, sobre os afetos desbotados também da vida. Então, fala sobre isso, afetos, sobre coragem também".
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Luis Osete reflete sobre a conquista do prêmio Jabuti. Para o escritor, o reconhecimento serve para responder dúvidas que surgem ao longo do processo de criação.
“Eu acho que isso fortalece esse sentido da caminhada, de que a mensagem está chegando, de que as pessoas estão reconhecendo mesmo que há uma qualidade literária naquilo. A gente que escreve, eu acho que a gente vive nessa insegurança e tem que viver um pouco essa insegurança”.
Apesar do reconhecimento, Osete cita dois grandes nomes da literatura brasileira para reforçar a importância de manter os pés no chão. “Cada livro vai nos pegar de um jeito. Eu acho muito difícil, por exemplo, escolher entre um livro de Drummond e um livro de João Cabral. Imagina ter que ir em um prêmio literário e ter que dar um prêmio ou para Drummond ou para João Cabral, que são duas pessoas que me influenciam muito e são muito importantes aqui na literatura brasileira. Então, eu tenho que criar essa limitação mesmo”, afirma Osete, completando:
“Não é possível premiar todos, às vezes a gente tem que destacar alguém. E óbvio que a gente não pode ficar vaidoso com isso”.
Caminhos até o prêmio Jabuti
Capa do livro Maracujá Interrompida, de Luis Osete, vencedor do Prêmio Jabuti 2025, na categoria Escritor Estreante – Poesia
Reprodução
A cerimônia do 67º Prêmio Jabuti foi realizada, pela primeira vez, na cidade do Rio de Janeiro, onde Luis Osete mora e cursa doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Antes, a premiação acontecia em São Paulo. A mudança de sede, na visão do escritor, é um dos caminhos que o levaram até a disputa.
Baiano, da cidade de Cardeal da Silva, Osete vive desde 2005 nas cidades de Juazeiro (BA), onde se formou em jornalismo na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), e Petrolina, onde atua como servidor do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IFsertãoPE). A mudança para o Rio aconteceu em 2022, quando se licenciou do cargo público para se dedicar ao doutorado.
Ainda em 2022, antes da mudança para o Rio, Luis Osete participou do VIII prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura, da Secretaria de Cultura (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), em parceria com a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), para autores que moram em Pernambuco.
Maracujá Interrompida foi o grande vencedor do prêmio, sendo lançado pela Cepe em novembro de 2024. “Eu teoricamente não estaria aqui. Participei do prêmio Hermilo Borba Filho, que é um prêmio para quem mora em Pernambuco. Saiu o resultado em 2022 e o livro só foi publicado no final do ano passado. E em 2022 eu também estava vindo morar no Rio para o doutorado que termina em março do ano que vem. Então, teve essa coincidência toda de eu estar aqui no Rio e ser a primeira vez aqui”.
Encontro com a poesia, fim do doutorado e livro infantil
Maracujá Interrompida é o primeiro livro de poesia escrito por Luis Osete. O gênero literário entrou na vida do jornalista quando ainda era um estudante de ensino médio em Salvador.
“Eu tive um professor de literatura que incentivou muito, não só eu, como a todos na turma do ensino médio, a publicarem poemas. Eles faziam as antologias poéticas com poemas nossos. Foi um grande incentivador. Então, desde ali eu já fico experimentando um pouco essa escrita, mas não me sentia seguro ainda de publicar um livro”.
Osete lembra que a pandemia da Covid-19 foi fundamental para o seu amadurecimento como escritor e para o nascimento de Maracujá Interrompida. “Passei nove meses morando com meus pais, e na pandemia me veio a necessidade da escrita, escrever como se fosse um diário. E é esse diário poético que se transformou nesse livro”.
Atualmente, Osete está se dedicando ao final da tese de doutorado, que deve ser entregue até março do próximo ano. A pesquisa é com crianças de quatro comunidades que moram na beira do rio São Francisco.
“Eu quero poder, até como um resultado desse processo de pesquisa com crianças, escrever um livro para as crianças. Eu acho que esse vai ser meu próximo projeto literário. Eu sei que a tese não vai vai ser do interesse das crianças lerem. A tese é um trabalho acadêmico.”
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